segunda-feira, 26 de julho de 2010

meu avô

primeiro eram as dores de estômago, quase crônicas, mas que desapareciam no meio de outros problemas com outras partes do corpo. há uns 15 dias, quando a dor no estômago e a fraqueza voltaram com tudo, a opção foi baixar no hospital. depois de uma batelada de exames, uma biópsia confirmou: o tumor no estômago é maligno. cirurgia ou quimio estavam fora de cogitação devido à fragilidade dele. mas como a dor era muito forte faria com que ele voltasse logo para o hospital. decidiram pela operação. então, sexta-feira (23 de julho), meu avó Antônio entrou na sala de cirurgia, às seis da tarde. quando o médico abriu, literalmente, meu avô, viu que ele estava todo tomado de metástases. estômago, gânglios, pâncreas. numa cirurgia que levou mais de seis horas, todo o estômago teve de ser retirado e do pâncreas, o máximo possível. o esôfago escapou do seu lugar, e tiveram que cortar meu avô na horizontal, logo abaixo das costelas, para pinçar o esôfago e grampeá-lo com o intestino. sobraram metástases. ele foi para a UTI, com catéter, sonda na uretra, tubos de oxigênio. eu fui ver ele ontem, porque precisava fazer isso. foi bem ruim. ele não pode fazer esforço algum, mas queria tossir e cuspir. em um dos braços, sangue que escapou da agulha. no peito, o marca-passo que se sobressai, já que ele é bem magrinho. no lado esquerdo do peito, o catéter ligado a um líquido pastoso amarelo. no chão, dois galõezinhos que devem ser a alimentação dele, com uma mangeira grossa como um dedo. ele estava sonolento, mas abriu os olhos. foi horrível, porque a gente só olhava para ele e não falava nada, nem ele podia falar. ele estava com as mãos inchadas. queria dizer tanta coisa para ele. queria tirar ele dali e fazer ele feliz. espero que ele tenha ficado feliz em me ver ali. eu me sentiria bem abandonada se estivesse em uma UTI. posso jurar que vi uma lagrimazinha no canto do olho dele. quando eu saí de lá, só consegui chorar. e o telefone do meu pai está tocando. que medo. deve ser desgraça. ufa, não era. foi muito triste ver meu avô daquele jeito. por 15 dias depois da operação, caso ele sobrevivesse (o que o médico disse que seria um milagre), nós tínhamos que torcer para não acontecer uma infecção e não estourar nenhum grampo. mas hoje, ao meio-dia, veio a notícia: ele precisava ir ao bloco cirúrgico para drenar alguma coisa. falaram que era do pulmão, mas depois que foi só água "da operação". demorou, e depois induziram o coma. parece que um ponto estourou. os rins pararam. amanhã vão começar a hemodiálise. a pressão sanguínea está bem baixa. alguns falaram que o médico disse que ele não passa de hoje. que horror. é horrível ir dormir com medo das notícias que se possa ouvir de manhã. a agonia é grande e geral. não quero perder meu avó. não desse jeito. o problema é que ele está bem comprometido. caso saia da UTI e se recupere bem, ele vai levar no mínimo seis meses para voltar a comer. mas ele vai continuar com câncer e não sei como a quimioterapia (se ela fosse possível) ia deixá-lo. não quero não quero que ele morra.

Nenhum comentário: