quando as pessoas me diziam que eram como quebra-cabeças eu achava clichê. mas agora eu sou uma delas. feita de pedacinhos, todos os caquinhos de coração e mente (mal) juntados, colados com algum tipo de cola feita de amor e ódio. são pedaços meus espalhados pelo mundo, até mesmo nos lugares em que eu nunca estive, mas nos quais meu coração sempre pisou. é como se a cada verdadeira emoção eu ficasse maior por fora, mais corajosa. mas ao mesmo tempo eu tive que perder muita coisa, ficando, assim, mais frágil e quebradiça por dentro. para cada pessoa com que eu troquei olhares, eu tirei uma pequena cópia de sua aparência e guardei aqui dentro. de todas as conversas que eu tive eu também guardei uma cópia trancafiada na mente, e no coração só o que valia a pena. as palavras dos meus grandes mestres eu guardei mais secretamente que muitos segredos próprios, e até as repeti para quem realmente merecia. criei saudades de pessoas distantes, desfiz laços com vizinhos.
agora eu ando assim, entre o que eu me tornei, entre o que eu perdi, entre o que eu fui. dividindo anéis com padrinhos, moletons e palavras de protesto com um velho desconhecido querido e amigo, usando os mesmos óculos que um dia um grane ídolo usou, carregando nos dedos cicatrizes de amigas, carregando no peito cicatrizes de amor. mais dor do que amor, é verdade. carrego comigo também lembranças de noites em que eu só tive a mim mesma, e de dias em que nem um ombro amigo foi consolador o suficiente. me lembro bem de cada música que me embalou e que me fez chorar. são todos esses pedaços de memórias - não muito antigas, mas já consumidas pelo tempo - que me fazem realmente ser quem sou. a camiseta que eu visto já não importa mais, principalmente se houver aquela bagunça interna. durante muito eu carreguei olheiras que ninguém mais percebeu, e isso me marcou de uma forma muito estranha. de modo que já fui marcada mesmo, não nos interessa nada além do fim.
(2 de janeiro, 2009)
PS: me sinto tão ridícula por essas coisas.
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