o mundo tava caindo lá fora.
a chuva chuvia de lá pra cá, de cá pra lá e acabou molhando a barra do meu pijama.
eu decidi sentar na sacada, enquanto a cidade toda pairava numa fumaça cinza e meio brilhante.
tudo parece mais mágico quando mais melancólico, não?
mas não, essa cidade não parece melancólica. muito menos mágica.
olho pra luz.
a lâmpada falhada ilumina a chuva.
ela cai tão certa do seu destino. sabe onde tudo acaba. estava nas nuvens e vai tão rapidamente pro chão. e ela não tem medo disso.
ela cai bonita, pura, e de certa forma até alegre.
queria eu ter essa certeza de chão.
firme, bonita. e tão inviolável.
inabalável e admirável.
eu queria muito ser assim.
deixar as nuvens sem medo, sem preocupação.
e cair pura do céu.
mas então, eu sentei na sacada.
com uma caneca grande de café quente na mão, a fumaça embaçando o óculos já todo sujo.
mas de que adiante o óculos limpo e a mente suja? os olhos vendados?
nada.
então eu olhava pra fumaça. lembrava de tudo.
tudo tão bom.
a chuva avançava nas minhas meias. alguém se importa?
as coisas eram tão boas. os beijos eram tão longos. e tudo acabou assim, por uma conversa. uma tarde cansativa com mil idéias na cabeça. um beijo, uma última entrega. tanta leveza num momento só.
e se foi. passou. a lembraça tarda, falha mas continua lambendo a ferida.
os momentos ficam. as canções continuam aqui. os pensamentos evoluem. as cobertas mexem, caem e voltam pro corpo gélido. os olhos não amanhecem, não dormem, continuam cegos pro mundo, olhando os rasgos por dentro.
o café estava esfriando, trate logo de acabá-lo.
a chuva aumenta.
os raios e os relâmpagos aumentam. os trovões? eles são que nem o reecontro. a gente sempre espera, nem sempre vem. o meu trovão nunca chegou.
virou escuro. o café acabou. de um lado luzinhas redondas de natal que não foram tiradas piscam descompassadamente. do outro lado, o poste com a chuva.
eu cansei de olhar, de lembrar, de desejar, de ter, se ser. de viver.
fechei a janela e fui dormir.
"é como se a gente não soubesse pra que lado foi a vida, por que tanta solidão... e não é a dor que me entristece, é não ter uma saída nem medida na paixão. foi, o amor se foi perdido. foi tão distraído que nem me avisou. foi, o amor se foi calado. tão desesperado que me machucou. é como se a gente presentisse tudo que o amor não disse, diz agora essa aflição. e ficou o cheiro pelo ar, ficou o medo de ficar vazio demais meu coração. foi, o amor se foi perdido. foi tão distraído que nem me avisou. foi, o amor se foi calado, tão desesperado, que me maltratou"
segunda-feira, 26 de março de 2007
enquanto o caos segue em frente.
Postado por - ka às 17:04
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